21 de set. de 2011


Saudação à Primavera
*Cecília Meirelles*

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebe-la.
A inclinação do sol vai marcando outras sombras;
e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra,
nesse mundo confidencial das raízes,
e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes
e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododentros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa,
como os palácios de Jeipur.
Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais
de sua nação.
Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares,
e certamente conversam: mas tão baixinhos que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno,
quando as amendoeiras inauguram suas flores,
e todos os olhos procuram pelo céu e primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com matas intactas,
as árvores cobertas de folhas, e só os poetas, entre os humanos,
sabem que uma Deusa chega, coroada de flores,
com vestidos bordados de flores,
com os braços carregados de flores,
e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega.
É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente
se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem,
no momento que quiserem, independentes deste ritmo,
desta ordem, deste movimento do céu.
E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos,
e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais
com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural,
prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos,
que dão beijinhos para o ar azul.
Escutemos estas vozes que andam nas árvores,
caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos:
lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos;
e a eufórbia se vai tornando pulquérrima,
em cada coroa vermelha que desdobra.
Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados
em redor do perfume.
E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento,
por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade.
Saudemos a primavera, dona da vida e efêmera.

Um comentário:

kellyanne Q disse...

queria tem essa qualidade, essa dadiva de escreve poesias, e uma coisa que eu invejo nos poeta o dou de faze uma poesia o modo como eles descreve uma cena triste ou uma cena alegre como tanta emoção e lindo. amei o blog nota 1.000 bjs